Projectos

Nome:ZAMBECCARI, Pompeu
Nascimento e morte:Bolonha, 1518 - Aquila, Verão de 1571
Descrição:Oriundo de uma família da aristocracia mercantil de Bolonha, Pompeu era filho de Giacomo Zambeccari e de Alfonsina Passamonte, além de sobrinho de Pompeu Colonna, último cardeal condottiere e responsável pelo saque de Roma em 1526.
No início da sua carreira eclesiástica, Zambeccari encontrava-se na abadia de Santa Maria de Bominaco, nos Abruzzi, tendo, posteriormente, integrado a abadia cisterciense de San Spirito d'Ocre, na mesma província.
Doutorado em Direito Civil e Canónico, entrou ao serviço do cardeal Alessandro Farnese. Até ao final de 1545, foi luogotenente do abade de Farfa, cargo com competências judiciais. Por essa altura, recebeu o título de protonotário.
Em 1550, Zambeccari encontrava-se de viagem rumo a Portugal como núncio apostólico, designado pelo papa Júlio III para substituir João Ricci. Antes, a 1 de Julho de 1547, fora nomeado bispo de Sulmona.
São poucas as informações relativas à sua nunciatura visto que, sobretudo os primeiros anos, foram muito escassos em correspondência. Em 1551, Júlio III ordenava-lhe que fizesse uma inquirição canónica sobre a vida e os milagres de Gonçalo de Amarante. Nesse mesmo ano, Álvaro Gomes, sacristão da capela real e pregador da corte, publicou o seu pequeno tratado De coniugio regis Anglie cum relicta fratis sui, graças à ajuda do núncio.
A débil troca de correspondência entre o núncio e o papa dever-se-ia igualmente a uma perda de importância das relações entre a Santa Sé e Portugal e, por conseguinte, da nunciatura portuguesa. A prioridade do pontífice focava-se então no conflito que envolvia os Habsburgos e o rei de França. Assim, segundo Charles-Martial de Witte, é possível que Zambeccari tenha chegado a Portugal sem instruções precisas sobre a sua missão. O mesmo autor traça também o perfil do núncio: dotado de uma extrema capacidade de observação mas com pouca imaginação e habilidade política, qualidades imprescindíveis a um diplomata. A escolha de um indivíduo para a nunciatura portuguesa a quem faltavam essas aptidões também revelava o quanto secundário se tornara aquele cargo na escala de prioridades do papa.
Na Primavera de 1552, quando o Concílio de Trento se encontrava suspenso, Zambeccari teve uma audiência com D. João III na qual se discutiu a aplicação dos decretos da reforma, saídos do concílio, no reino português.
No final desse ano, o núncio lamentava-se de que passara um ano sem notícias de Roma. Quando o cardeal D. Henrique se deslocou à Santa Sé para negociar a criação de uma legação vitalícia em seu favor, Zambeccari foi deixado a leste das negociações. Segundo Witte, esta era mais uma prova da desordem diplomática vivida durante o pontificado de Júlio III.
A 8 de Novembro de 1553, João Francisco Canobio chegava a Lisboa, destinado a substituir Zambeccari como representante da Santa Sé em Portugal. Vinha como colector apostólico e trazia a bula que nomeava o cardeal D. Henrique legado vitalício da Sé apostólica nos territórios portugueses.
Assim, a 25 de Novembro, estava de partida de Portugal, atravessando a fronteira por norte, rumo à Galiza. A 16 de Setembro de 1554, entrava solenemente na diocese de Sulmona.
Durante o pontificado de Marcelo II, Zambeccari foi nomeado núncio e comissário para receber a embaixada de D. Filipe II e de Maria Tudor. Esta foi a sua última missão protocolar feita para a corte pontifícia. No decorrer de 1556, deixou Roma, sob as ameaças do novo papa, Paulo IV, contra os bispos que se encontravam na cidade sem exercerem nenhum cargo oficial. Era o caso de Zambeccari que acabou por se refugiar em Parma, na casa do cardeal Alessandro Farnese.
Reiniciado o Concílio, chegou a Trento a 17 de Janeiro de 1562. Embora não tenha participado nas principais discussões de matéria doutrinal e disciplinar, foi quem recebeu oficialmente o embaixador português, D. Pedro Martins de Mascarenhas. Segundo Witte, a prestação de Zambeccari no concílio caracterizou-se pelo seu comportamento como um instrumento dócil nas mãos dos legados.
Em Março de 1563, escreveu uma memória sobre a integridade da jurisdição eclesiástica contra a intervenção abusiva das autoridades seculares e outros elementos exteriores à hierarquia religiosa. Zambeccari exprimia, assim, a situação vivida na Península Ibérica. A iniciativa da redacção desta memória teria vindo do cardeal Vitelli, em Roma, encontrando-se inscrita nas discussões em Trento.
Terminada a sua participação no concílio, Zambeccari regressou à sua diocese de Sulmona. Dedicou-se, nos anos seguintes, ao restauro do palácio episcopal, incutindo-lhe uma grande sumptuosidade.
Porém, aquando da morte do cardeal Seripando, regressou a Trento, na tentativa de conseguir a sucessão na arquidiocese de Salerno. Anos mais tarde, tentou também obter um cargo de clérigo na Câmara Apostólica. Quer num caso, quer noutro, Zambeccari não teve sucesso nos seus intentos. Foram infrutíferas as suas tentativas de sair dos Abruzzi.
A 20 de Abril de 1571, Zambeccari ditava o seu testamento, em Sulmona. Escolhia como sepultura a capela dos seus pais na basílica dos Doze Apóstolos, em Roma. Apesar dos cuidados no testamento, a fortuna da sua família, após a sua morte, acabaria por se arruinar.
Bibliografia
Estudos:Charles-Martial de Witte, La correspondance des premiers Nonces Permanents au Portugal (1532-1553), Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1986-90, vol. I, pp. 329-357; vol. II, pp. 668-752.
Samuel Rodrigues, “Legados pontifícios”, Dicionário de História Religiosa de Portugal. Direcção de Carlos Moreira Azevedo, vol. II, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, p. 290.
Sylvie Deswarte-Rosa, Le cardinal Giovanni Ricci de Montepulciano. Separata de La Villa Médicis. Études, Roma, 1991, p. 124.